quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

PALESTRA DE ABERTURA DO CURSO DE EXTENSÃO


SERGIPE NA FITA: CINEMA, LITERATURA E HISTÓRIA

Prof. Dr. Antônio Fernando de Araújo Sá
Departamento de História
Universidade Federal de Sergipe

Criado, em 1997, pelos professores Antônio Fernando de Araújo Sá e José Maria de Oliveira Silva, o Grupo de Pesquisa História Popular do Nordeste (UFS/CNPq) tem por projeto intelectual estabelecer discussão interdisciplinar com o objetivo de produzir leituras originais das realidades nordestina e sergipana. Além da publicação da revista eletrônica Ponta de Lança: História, Memória e Cultura, nossa proposta de socializar os estudos desenvolvidos por seus pesquisadores tem se materializado nos vários cursos de extensão realizados nos últimos quinze anos de nossa existência.
Com SERGIPE NA FITA: CINEMA, LITERATURA E HISTÓRIA, propomos criar um fórum entre diretores de cinema e vídeo sergipanos e a reflexão acadêmica sobre seus trabalhos, objetivando pensar os nexos entre cinema, literatura e história a partir das representações sobre a sergipanidade. A preocupação é discutir os limites e as possibilidades dessa produção audiovisual em sua resistência cultural de realizar filmes fora e, ao mesmo tempo, em diálogo com os eixos culturais hegemônicos.
Nesse curso convergem dois tópicos de pesquisa que têm sido objeto de reflexão dos pesquisadores vinculados ao grupo. De um lado, o diálogo entre cinema e literatura em que se busca estabelecer o modo como o discurso cinematográfico “transcria” a linguagem literária em imagens e sons, numa tradução criadora. De outro, as relações entre cinema e história têm marcado nossa preocupação didático-pedagógica nos cursos ministrados no Departamento de História, especialmente na disciplina Temas de História do Brasil Contemporâneo. Ambos os tópicos têm em comum a interlocução com a noção de memória, na medida em que as produções literária e cinematográfica, ao veicularem memórias de diferentes comunidades, povos e nações, possibilitam problematizar as identidades.
Entendemos aqui “identidade” não em função da diferença, mas como um dado concreto cultural e em contínua “prática” da diferença, pois, apesar do processo de identificação ser simbólico e imaginário, a identidade é uma realidade, porque sem ela nenhuma ação coletiva é possível.
Memória e identidade são indissociáveis. A memória participa da construção da identidade, mas também, por conta da sua seletividade, molda aquilo que deve ser lembrado e esquecido pelo indivíduo e sociedade. Contudo, as memórias e as identidades não são coisas fixas, mas representações ou construções da realidade, um fenômeno subjetivo ao invés de objetivo. Desse modo, as noções de construção, seleção, de registro, de significado, de criação e de consciência subjetiva fazem parte do relacionamento entre memória e identidade, revelando uma dimensão eminentemente dinâmica em que há um esforço não só de seleção, mas de reinterpretação sucessiva do passado.
Como a memória também é produzida pela mediação da cultura, entendemos que os objetos culturais, como filmes e livros, são operadores da memória social, isto é, constituem-se, ao mesmo tempo, em documentos históricos e monumentos de recordação.
Infelizmente, a memória visual em Sergipe não tem encontrado devido respaldo nas instituições culturais públicas ou privadas, demonstrado na impossibilidade de se consultar, por exemplo, todos os filmes vencedores do Festival Nacional do Cinema Amador (1972-1982), realizado durante o Festival de Arte de São Cristóvão, ou ainda do CANAL FASC nos seus dois certames no início dos anos 1990. Talvez a criação do Museu da Imagem e do Som possa criar um ambiente favorável para que a memória cultural seja acessível às novas gerações em Sergipe.
Nossa escolha dos filmes pautou-se na pluralidade e diversidade de temas relativos à identidade sergipana, mesclando elementos simbólicos do universo rural como o sertão em Sargento Getúlio, de Hermano Penna, Nação Lascada de Véio: A Glória do Sertão, de Ribeiro Filho ou A última semana de Lampião, de Ilma Fontes, mas também do mundo urbano em sua complexidade social, como Meninos Marcados para Morrer, de Caio Amado, ou Caixa d’Água: Quilombo é esse?, de Everlane Morais.

O curso de extensão, portanto, ao mesmo tempo em que cumpre o papel de difusão social do conhecimento universitário sobre a história cultural de Sergipe, busca, com a divulgação dos filmes em circuitos universitários, colaborar para a criação de um público que defenda a autonomia da cultura regional em tempos de globalização.

Nenhum comentário:

Postar um comentário