SERGIPE NA FITA: CINEMA, LITERATURA
E HISTÓRIA
Prof.
Dr. Antônio Fernando de Araújo Sá
Departamento
de História
Universidade
Federal de Sergipe
Criado,
em 1997, pelos professores Antônio Fernando de Araújo Sá e José Maria de
Oliveira Silva, o Grupo de Pesquisa História
Popular do Nordeste (UFS/CNPq) tem por projeto intelectual estabelecer discussão
interdisciplinar com o objetivo de produzir leituras originais das realidades
nordestina e sergipana. Além da publicação da revista
eletrônica Ponta de Lança: História,
Memória e Cultura, nossa proposta de socializar os estudos desenvolvidos por seus pesquisadores tem se
materializado nos vários cursos de extensão realizados nos últimos quinze anos de nossa
existência.
Com SERGIPE
NA FITA: CINEMA, LITERATURA E HISTÓRIA, propomos criar um fórum entre diretores
de cinema e vídeo sergipanos e a reflexão acadêmica sobre seus trabalhos,
objetivando pensar os nexos entre cinema, literatura e história a partir das
representações sobre a sergipanidade. A preocupação é discutir os limites e as
possibilidades dessa produção audiovisual em sua resistência cultural de
realizar filmes fora e, ao mesmo tempo, em diálogo com os eixos culturais
hegemônicos.
Nesse
curso convergem dois tópicos de pesquisa que têm sido objeto de reflexão dos
pesquisadores vinculados ao grupo. De um lado, o diálogo entre cinema e
literatura em que se busca estabelecer o modo como o discurso cinematográfico “transcria”
a linguagem literária em imagens e sons, numa tradução criadora. De outro, as
relações entre cinema e história têm marcado nossa preocupação
didático-pedagógica nos cursos ministrados no Departamento de História, especialmente
na disciplina Temas de História do Brasil
Contemporâneo. Ambos os tópicos têm em comum a interlocução com a noção de memória,
na medida em que as produções literária e cinematográfica, ao veicularem memórias
de diferentes comunidades, povos e nações, possibilitam problematizar as
identidades.
Entendemos
aqui “identidade” não em função da
diferença, mas como um dado concreto cultural e em contínua “prática” da
diferença, pois, apesar do processo de identificação ser simbólico e
imaginário, a identidade é uma realidade, porque sem ela nenhuma ação coletiva
é possível.
Memória
e identidade são indissociáveis. A memória participa da construção da
identidade, mas também, por conta da sua seletividade, molda aquilo que deve
ser lembrado e esquecido pelo indivíduo e sociedade. Contudo, as memórias e as identidades
não são coisas fixas, mas representações ou construções da realidade, um
fenômeno subjetivo ao invés de objetivo. Desse modo, as noções de construção,
seleção, de registro, de significado, de criação e de consciência subjetiva
fazem parte do relacionamento entre memória e identidade, revelando uma
dimensão eminentemente dinâmica em que há um esforço não só de seleção, mas de
reinterpretação sucessiva do passado.
Como a
memória também é produzida pela mediação da cultura, entendemos que os objetos
culturais, como filmes e livros, são operadores da memória social, isto é, constituem-se,
ao mesmo tempo, em documentos históricos e monumentos de recordação.
Infelizmente,
a memória visual em Sergipe não tem encontrado devido respaldo nas instituições
culturais públicas ou privadas, demonstrado na impossibilidade de se consultar,
por exemplo, todos os filmes vencedores do Festival Nacional do Cinema Amador
(1972-1982), realizado durante o Festival de Arte de São Cristóvão, ou ainda do
CANAL FASC nos seus dois certames no início dos anos 1990. Talvez a criação do
Museu da Imagem e do Som possa criar um ambiente favorável para que a memória
cultural seja acessível às novas gerações em Sergipe.
Nossa escolha
dos filmes pautou-se na pluralidade e diversidade de temas relativos à
identidade sergipana, mesclando elementos simbólicos do universo rural como o
sertão em Sargento Getúlio, de
Hermano Penna, Nação Lascada de Véio: A
Glória do Sertão, de Ribeiro Filho ou
A última semana de Lampião, de Ilma
Fontes, mas também do mundo urbano em sua complexidade social, como Meninos Marcados para Morrer, de Caio
Amado, ou Caixa d’Água: Quilombo é esse?,
de Everlane Morais.
O
curso de extensão, portanto, ao mesmo tempo em que cumpre o papel de difusão social
do conhecimento universitário sobre a história cultural de Sergipe, busca, com
a divulgação dos filmes em circuitos universitários, colaborar para a criação
de um público que defenda a autonomia da cultura regional em tempos de
globalização.
Nenhum comentário:
Postar um comentário